ENTREVISTA A JONAS RIBEIRO

(ESCOLA DE DANÇA RITMO LATINO)

 

Nesta entrevista, falámos com Jonas Ribeiro, professor de dança e fundador da escola Ritmo Latino, uma escola de referência na cidade de Coimbra.

Jonas desenvolveu métodos originais e um currículo com formações internacionais que lhe permite ensinar a qualquer um os fundamentos base e avançados das danças afrolatinas.

Descobre abaixo o seu percurso inspirador e dicas para começar já a dançar.

 

WOU: Como é que começou a tua paixão pela dança?

Jonas Ribeiro: A minha experiência de dança começou há cerca de 20 anos e era uma maneira de socializar. Foi assim que eu entendi que fazia falta na minha vida socializar um bocadinho mais. Passava imenso tempo com computadores, porque era formador de professores na área da tecnologia na educação e atingi um ponto de uma certa saturação. A dança surgiu como uma janela, uma abertura para um estilo de vida mais saudável e em que eu me pudesse relacionar melhor com as outras pessoas. Tinha muita curiosidade com a dança e não sabia dançar e incomodava-me passar tantas horas em casa.

Entretanto, comecei a aprender a dançar e a paixão aumentou. Eu primeiro aprendi danças de salão, e foi uma experiência muito interessante durante 6 anos. Só posteriormente é que aprendi as danças afrolatinas e claro, a paixão foi sempre ficando mais intensa. Especialmente porque estamos a falar em danças que mexem bastante com a nossa forma de estar na vida, que nos tornam pessoas mais poderosas e digamos que há um empoderamento depois da dança ou através dela. A dança permite-nos comunicar para além deste modo que normalmente utilizamos. Permite comunicarmos com o corpo, expressar os nossos sentimentos.

Portanto, comecei a dar aulas porque formador de professores e alguém me disse – “Se tu danças bem, se és professor, se formas professores, hás-de ter com certeza estratégias para ensinar a dançar.” Primeiro não estava interessado em mais trabalho e em complicar a minha vida mas depois resolvi fazer uma experiência com aulas de dança, quando já dançava há quase 10 anos. Um grupo de pessoas amigas pediram-me para experimentar ensinar e parece que correu bem porque 21 anos depois ainda dou aulas de dança.

 

Como é que nasceu a escola Ritmo Latino, em Coimbra?

De uma forma muito orgânica. Como eu disse, um grupo de amigos que estavam a dar aulas mas que gostavam de ter a experiência com um tipo de dança que eu ensinava, convidou-me para ir lá fazer uma sessão experimental. Eu aceitei e o grupo gostou bastante da aula e ficou ali estabelecido que todas as segundas-feiras iríamos estar juntos, a fazer a aula comigo. Foram quase dois anos neste registo, em Mortágua. A partir daí, através de uma amiga que conheci  na faculdade, começou outra turma em Coimbra. Assim, no primeiro mês, em setembro, começou a primeira, no segundo mês, em outubro abrimos uma segunda turma, em novembro outra, em janeiro outra e em março mais uma. Em poucas meses estava ali com um calendário apertado de atividades, bastante preenchido. Foi assim um bocadinho sem querer que aconteceu. (…)

 

Ensinas Afrolatinas, consegues explicar um pouco melhor o que são este tipo de danças?

Inicialmente começou por se dançar danças latinas, que se dançavam já há várias décadas. Eu aprendi-as nos anos 90. Começou-se a dada altura a falar em danças africanas mas ainda não havia quem as ensinasse, portanto aprendíamos primeiro as danças latinas, que são a salsa, a bachata, o cha cha cha, o merengue. São estas aquelas que têm maior expressão. Posteriormente, começámos também a ensinar kizomba, que era uma dança que já se dançava em Coimbra porque havia uma discoteca em Antanhol que se chamava Crioula, onde me recordo que havia imensas festas de aniversário e convívios, mas as pessoas não sabiam dançar. Haviam os africanos que davam o seu show e a malta estudante, como era o meu caso, que ficava a olhar e muito motivados para aprender mas ainda não havia onde. Passados alguns anos fiz a minha formação em vários locais, com vários professores e comecei a ensinar salsa, merengue, bachata e kizomba. Estas são as danças mais emblemáticas. Em Portugal fala-se muito em kizomba, e isso é natural porque é falada em português, nasceu em Angola e é natural que atinja uma popularidade enorme. Começou a ter essa popularidade em cerca de 2003/2004 quando havia sempre vários temas de kizomba, nos Tops de vendas de música em Portugal, a bater todos os outros géneros. Depois de ter sido um sucesso de música porque era entendida por toda a gente, passou a ser também uma dança procurada por muitas pessoas e praticada em Portugal em quase todo o lado, bastante mais que salsa, merengue e bachata.

 

Quais são os motivos principais que levam as pessoas a aprender danças afrolatinas?

Podem ser vários. Desde o casal que está em casa um pouco saturado de ver televisão e das tarefas domésticas, de estar fechado em si mesmo e que precisa de conviver com outros casais e com outras pessoas, até à pessoa que está em casa sozinha e que depois de ir ao cinema, depois de ir ao ginásio ou caminhar na natureza, acha que ouvir esta música, que tem sempre uma certa complexidade, uma certa beleza e sensualidade, e aliar a isso a possibilidade de enquanto se ouve a música dançar de uma forma mais ou menos próxima através de um abraço com outra pessoa. Eu penso que esta é a grande força deste tipo de danças, em que o abraço é fundamental. Posso acrescentar o tango, que também tem por base o abraço aproximado. Estas danças provocam um conforto pessoal, sensorial, apaziguam as pessoas depois de um dia de trabalho, conflitos e vicissitudes que nós todos vamos tendo ao longo do dia. Chegamos a uma aula de dança e parece que o mundo para. As letras encantadoras tiram-nos daquele ambiente pesado que nós trazemos, desligamo-nos de tudo e no caso do homem conduzimos o nosso par, dando o melhor para que aquela pessoa se sinta no paraíso, e a mulher desliga dos seus problemas e entrega-se confiante nos nossos braços. Isto de uma forma tão natural e espontânea que só mesmo a pandemia é que poderia vir estragar isto tudo.

 

“(…) como se a bachata fosse a entrada, a salsa o prato principal e a kizomba a sobremesa”

 

Além de professor e dançarino, também és DJ, como é que estas duas profissões se ligam no teu caso?

Eu posso dizer que era aluno de dança e eu e os meus colegas precisávamos de um local para dançarmos socialmente para além das aulas, uma vez que só havia festas no Porto, na casa do rio. Mas não podíamos fazer isso todas as semanas porque senão passávamos as noites de sexta-feira na estrada. Coimbra precisava de um espaço onde dançar e foi aí que eu sem querer me tornei DJ. No fundo, tratei de arranjar um local que nos aceitasse e nos recebesse, eu tinha alguma música, não fui um DJ intencional.

Posso dizer que na primeira festa havia dois CDs, um de salsa e um de merengue, e eu não sabia mexer nos instrumentos que lá havia. Então, entreguei os CDs a um funcionário da casa e disse-lhe para pôr dois merengues de um cd e duas salsas do outro CD e para ir alternando um com o outro e correu bem. Nessa festa tiveram 39 pessoas e semana a semana chegaram a estar 200.  É importante referir que as discotecas começavam às 2 ou 3 horas da manhã e nós começávamos às 10 horas da noite e isto é fora do comum.

 

Sabemos que já percorreste outros países onde este tipo de danças é vivido à flor da pele. Queres partilhar connosco a tua experiência noutros cantos do mundo?

Eu recordo-me das primeiras vezes que fui a Cuba ver concertos ao ar livre com milhares de pessoas e vê-las a dançar, não a pular, mas a dançar verdadeiramente. De facto há países com um fervor nesta área que não é propriamente o que existe em Portugal, mas também me lembro de outros países na Europa onde se dança imenso: em Espanha, em França, na Bélgica, na Alemanha, na Croácia há congressos internacionais de dança.

 

Que sonho ainda gostavas de realizar na dança?

Neste momento o meu sonho era que voltassem as festas latinas, mas isto é só um sonho, tenho a noção da realidade.

 

Algum par com que gostarias de colaborar ?

Em Coimbra tenho um par com quem gosto imenso de dançar, a Teresa, é o meu par de eleição. Ela ajuda-me nas aulas de dança e saímos imenso para dançar. Portanto, é o par com quem gosto muito de dançar.

 

Salsa, Bachata ou Kizomba. Só poderias escolher uma destas para toda a vida. Qual seria?

Era muito complicado. Começava pela bachata, depois dançava salsa e acabava numa kizomba para descontrair, como se a bachata fosse a entrada, a salsa o prato principal e a kizomba a sobremesa. Mas como pedes só uma eu diria som cubano ou salsa no tempo 2.

 

“Não existem pés de chumbo, o que há é pessoas que ainda não foram estimuladas sensorialmente ou cognitivamente.”

 

Que conselhos podes deixar a quem quer aprender a dançar?

Não se fixem na maneira como dançam os bailarinos, fixem-se sim como o professor vos pode ajudar a dançar, isto é, não sejam fãs, sejam alunos de um/a professor/a que vos quer ensinar a dançar. Na escolha de um professor de dança escolham os que são efetivamente professores e que vão dar tudo pela vossa evolução.

Uma coisa recomendável é estarem atentos às escolas de dança, que têm um ciclo anual que começa em setembro e é fundamental as pessoas irem a aulas regulares e não a cursos intensivos. Aprendam semana a semana, a partir do nível mais baixo.

Não existem pés de chumbo, o que há é pessoas que ainda não foram estimuladas sensorialmente ou cognitivamente. Há pessoas que já fizeram atividades musicais, rítmicas, físicas…e outras que não. É óbvio que quem já praticou atividades vai ter mais facilidade em aprender. Mas quem nunca dedicou atenção e que a  dada altura precisa da dança para melhorar a sua qualidade de vida é para essas pessoas que também lá estamos, a ensinar como se põem os pés, os braços, a postura do tronco, se a mulher também conduz…e portanto, tudo isto aprende-se nas aulas.

 

Assiste à entrevista integral no canal Youtube WOU.

Aulas de dança na Escola Ritmo Latino.